quarta-feira, abril 08, 2015

Cortázar, Final do Jogo

"in" Os venenos, p.28
[...]cansava um pouco e era quase como um voo, mas nunca como o sonho de voar que eu sempre tinha naquele tempo, que era levantar as pernas do chão e, com um ligeiro movimento de cintura, voar a vinte centímetros do solo, de uma maneira que não dá para contar de tão bonita, voar por ruas compridas, às vezes subindo um pouco e uma vez ao rés do chão, com uma sensação muito nítida de estar acordado, mas o problema nesse sonho era que eu sempre sonhava que estava acordado, que voava de verdade, que antes tinha sonhado mas agora era para valer, e quando acordava era como cair no chão, que triste sair andando ou correndo mas sempre pesado, voltando para baixo a cada pulo.